Até hoje o Johnscher funciona no mesmo endereço onde tudo começou: na Rua Barão do Rio Branco, 354. O lugar é próximo da antiga ferroviária de Curitiba e fica na via por onde passava a primeira linha de bonde da cidade. Também era por ali onde ficavam importantes edifícios públicos, como o antigo Palácio do Governo (atual sede do Museu da Imagem e do Som), o Palácio Rio Branco (hoje a Câmara Municipal) e o Paço Municipal (que por décadas foi a sede da Prefeitura de Curitiba). São fatores que ajudam a explicar o sucesso que teve o estabelecimento, inquestionavelmente.
Antes do luxuoso Hotel Johnscher nascer, no entanto, funcionou ali outro estabelecimento, o Hotel Paris. A hospedagem, registra o historiador Júlio Moreira, sofria “de muita má fama”, por ser um lugar mais associado à boêmia e às lascívias. “Os homens de negócios, em vez de trazerem as mulheres deles, começaram a trazer as namoradas, as amantes. E aí o Hotel Paris entrou em decadência por causa disso, porque a sociedade da época não aceitava esse tipo de comportamento”, explica Cláudia Belloni, uma das diretoras da rede San Juan Hotéis, que hoje administra o Johnscher.
Em 1915, o Hotel Paris se despediu e surgiu o Hotel Stumbo. Mas a situação (e a fama) do imóvel só foi mesmo começar a mudar em 1917, quando a empreendedora Victoria Johnscher, uma viúva e mãe de seis filhos, resolveu alugar o espaço que pertencia à família Parolin. Nascia, enfim, o Hotel Johnscher.
“Essa senhora assumiu [o hotel] porque eles já tinham experiência em Paranaguá, onde possuíam uma pousada. Eles vieram e daí ela revitalizou o hotel, colocando ele como um dos melhores da cidade de Curitiba”, conta ainda Belloni. “O hotel tinha 32 apartamentos e primava muito pela limpeza, o conforto. A Victoria Johnscher deu um significado novo à hotelaria da época. Aqui foi o primeiro hotel com água quente, o primeiro hotel da cidade que tinha elevador. Os moradores de Curitiba, quando passavam por essa rua, vinham conhecer o hotel, queriam descobrir o que era um elevador. Na época, era uma coisa de outro mundo”, emenda ainda a diretora da rede San Juan.
O auge, ocaso e renascimento do Johnscher
Em pouco tempo, o Hotel Johnscher se tornou um dos mais icônicos da cidade. Ao longo dos anos, celebridades das mais diferentes áreas se hospedaram ou mesmo frequentaram no estabelecimento. Uma delas foi Santos Dumont, o Pai da Aviação. Além disso, o lugar também era conhecido por sua festas, especialmente a de Natal. Nessa época, uma grande árvore era montada em frente ao Johnscher, que oferecia uma das mais concorridas ceias da cidade, com direito até a orquestra.
Com o passar dos anos, no entanto, o outrora luxuoso hotel foi perdendo seu prestígio. Até que em 1977 chegou a ser desativado e ficou abandonado até 2000, quando foi adquirido pela rede San Juan Hotéis, num deslumbre do empresário João Belloni. “Meu pai passava na frente do hotel quando ele era grande e achava aquilo monumental de lindo. E ele também teve um vislumbre dos hotéis boutique, porque na época não se falava nisso também”, afirma Cláudia.
Dois anos depois, em 2002, o imóvel estava novamente em pé, completamente restaurado, mas mantendo sua fachada e a arquitetura original. No projeto de restauro, assinado pelo arquiteto Humberto Fogassa, todos os detalhes que caracterizavam a edificação foram recuperados, inclusive o amplo saguão com lareira e o restaurante onde as famílias curitibanas se reuniam em datas importantes.
O Hotel das Noivas
Intimista, artístico e sofisticado, hoje o Hotel Johnscher conta com 24 acomodações exclusivas de alto padrão decoradas com mobiliário de época. Para recriar a atmosfera dos anos 1920, apresenta galerias de fotos e itens originais do início do século XX, como o telefone Magneto de Parede, modelo 317 – fabricado de 1911 a 1915, nos EUA –; poltrona namoradeira estilo Luis XV; vitrola; lustre de vidro e um piano Schneider.
Foi, inclusive, esse ar nostálgico e ao mesmo tempo romântico que fez a hospedagem ficar conhecida como o Hotel das Noivas. “Esse reconhecimento de ‘Hotel das Noivas’ acabou surgindo, por ele ser muito pequeno e charmoso. É um hotel que está na história e sempre ficará na história de Curitiba. E isso remete às noivas, que em seus casamentos querem fazer parte de uma história. É uma data memorável num espaço memorável e isso chama muito a atenção das noivas, que gostam muito daqui”, explica Belloni.
O outro hotel da família Johscher onde Santos Dumont esteve hospedado
Curiosamente, a família Johnscher (descendente de imigrantes alemães) teve também outro importante hotel na cidade. Trata-se do Grande Hotel Moderno, possível e provavelmente o primeiro hotel curitibano.
Inicialmente localizado na esquina da então Rua da Liberdade com a Rua das Flores, o estabelecimento se mudou para a Rua XV de Novembro em 1903, após o alargamento da Rua Barão do Rio Branco. Já no novo endereço, foi adquirido em 1923 por Victoria Johnscher e passou a ser gerenciado por Francisco Lourenço, filho mais velho da empresária. Com isso, o Johnscher passou a ser controlado pelo cunhado de Francisco, Leopoldo Niemeyer, que foi quem esteve à frente da hospedagem até a década de 1970.
O Grande Hotel Moderno chegou a hospedar notáveis personalidades. Santos Dumont, como antecipado, foi uma delas. Mas outros grandes nomes, como o Presidente Getúlio Vargas e o ator Henry Fonda, também estiveram no estabelecimento, que funcionou até setembro de 1975.